Ser extrovertida e amar estar com pessoas, não foi garantia de sucesso profissional. Explico!
Desde sempre, as atividades que envolvem o contato com pessoas me fascinam, mais precisamente as que me permitem comunicar. Isso talvez justifica minha formação como Relações Públicas. Uma formação que me especializou, possibilitando conhecer com mais profundidade o comportamento e as relações do ser humano em um contexto amplo da vida social e profissional, norteados pela comunicação. Desafios de comunicação da mulher profissional
Mas nas entrelinhas dessa trajetória há um outro lado da história profissional, pela qual pude não só testemunhar, mas vivenciar o quanto nós, mulheres, enfrentamos desafios na seara da comunicação no ambiente de trabalho e negócios. Precisei entender que a comunicação assertiva nesse ambiente vai além de um perfil com estilo extrovertido. Nossa natureza nos premia com ótimas características comportamentais e sociais, porém, ainda, em diversas situações, não conseguimos adequa-las aos desafios do ambiente profissional, como explico abaixo. Desafios estes que impactam sobremaneira nossa carreira. Por eles pagamos um alto preço para fazer valer nosso direito de sermos ouvidas, respeitadas, valorizadas e recompensadas. E não é por acaso que em pleno século XXI ainda estejamos em grande desvantagem nas pesquisas referentes a cargos de liderança e comando.
Alguns estudiosos em ciência do cérebro e neurociência, como a Dra. Louann Brizendine, em seu livro The Female Brain, atestam que há diferenças entre os cérebros de pessoas do sexo feminino e masculino. E o curioso é que são diferenças significativas de comportamento, comunicação e percepção. Segundo ela, levamos, por exemplo, vantagem em questões relacionadas a agilidade verbal, capacidade de se conectar pela amizade e uma capacidade quase psíquica para ler rostos e o tom de voz em emoções e estados mentais.
Entretanto, sinceramente, ainda não conseguimos explorar essas diferenças neurobiológicas a nosso favor quando o assunto é ambiente de trabalho e carreira profissional. As mulheres se intimidam quando submetidas a situações efetivas que exijam posicionamento e autoridade, apropriação justa de ideias, projetos e resultados. Como consequência, deixam escoar oportunidades de obterem reconhecimento, promoção, valorização, entre outras, que seriam justas. E esse comportamento se potencializa quando outros objetivos estão em jogo, como por exemplo, preservar as relações, amenizar ou evitar conflitos, trabalhar os sentimentos de justeza e lealdade, entre outros.
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Hoje, com mais de 30 anos atuando em comunicação no ambiente corporativo, acadêmico e de consultoria, minha experiência profissional me permite uma percepção mais clara e real sobre esse assunto. Há muito tenho me dedicado às pesquisas sobre temas que envolvem as relações e a comunicação, inclusive nos âmbitos do universo feminino. E a análise do empírico aliado a teoria me leva a identificar cinco grandes desafios de comunicação que considero sabotadores para postura, atitude e resultado assertivos das mulheres enquanto profissionais. Lembro que não importa qual seja o cargo que essa mulher ocupe ou sua função dentro empresa. O que vale é nos imbuirmos da consciência de que cada uma de nós pode mudar esse jogo em prol de um futuro mais justo e equivalente às nossas competências e nosso maior potencial.
1) Assuma, efetivamente, seus méritos e créditos
Nesse item, eu mesma me coloco como exemplo. Inúmeras vezes abri mão de reivindicar o crédito por apresentar uma boa ideia, desenvolver um projeto promissor, alcançar um resultado importante, entre outros. Em diversos momentos compartilhei (mesmo que me questionando) com a chefia, equipe e departamento, os créditos pelas conquistas que na verdade eu me empenhei por alcança-las no ambiente de trabalho. Por que não me dei o direito do mérito, de ressaltar o “eu”? Hoje, garanto que se não nos valorizarmos e soubermos expressar de forma convincente sobre nossas realizações, ninguém mais os fará. Para isso, desenvolva sua habilidade para falar com poder, confiança e autoridade sobre quem você é, o que você faz e suas vitórias.
2) Foque na razão como aliada
A grande maioria das mulheres, inclusive eu, nos envolvemos além da razão com acontecimentos do nosso dia-a-dia profissional. Isso significa muitas vezes “abraçarmos” problemas, fatos e desafios, com excessivo envolvimento emocional. Não estou sugerindo que nos tornemos menos emocionais, mas sim que aprendamos a examinar o que está acontecendo, de uma perspectiva mais neutra e equilibrada. Afinal, ao conseguirmos nos descolar dos fatos temos melhor clareza para processa-los de forma imparcial e analítica. Quando neutralizamos as emoções adquirimos maior discernimento para considerar com assertividade os fatores e as influências que agem sobre a situação e, consequentemente, obter respostas eficazes. Os desafios de comunicação da mulher profissional
3) O merecimento é algo justo
Estudos já mostraram que os homens negociam salários, benefícios, posição e responsabilidade significativamente mais do que as mulheres. A se comparar com postura das mulheres, indiscutivelmente os homens têm muito mais confiança para negociar seus salários. Seja ao iniciar em um novo cargo/empresa ou no momento de uma promoção. Novamente, grande parte da nossa relutância em negociar e “pedir” o que queremos e merecemos em termos de valor financeiro é influenciada por nossa neurobiologia. Aliada a isso, há os objetivos inerentes que possuímos para a comunicação, conforme já mencionei acima, juntamente às repercussões punitivas que enfrentamos nesses momentos. Dito isto, é de vital importância aprendermos como reivindicar o que desejamos. Acreditar que efetivamente somos merecedoras da recompensa e que podemos nos valorizar por nossas contribuições.
4) Possuir e projetar autoconfiança
Outro grande desafio passa por nossa linguagem corporal, confiança e equilíbrio. Eles podem fortalecer ou quebrar a capacidade de avançarmos e termos sucesso no local de trabalho. Todas nós temos alguns gaps – áreas em que nos sentimos mais frágeis – ou seja, menos capazes, confiantes, corajosas e contributivas do que queremos ser. Os desafios de comunicação da mulher profissional
Descobri que nós valorizamos demasiadamente essas fragilidades. Sentimos mais vergonha e vulnerabilidade sobre elas do que os homens. Porém, a chave para um maior sucesso profissional e pessoal está em tirarmos o foco de negação sobre o que não está funcionando. Descobrir quais são nossos gaps – as fragilidades que nos assombram – e trabalhar com determinação para sana-las. E mais importante, voltar nossa atenção para a valorização dos nossos pontos fortes. Não importa o que identificamos como ponto falho. Se você precisar de mais conhecimento, treinamento ou ajuda, vá em busca. Se você se envergonhar de um grande erro que cometeu no trabalho, não o oculte, não se puna, mas corrija-o, aprenda com ele e siga em frente, com cabeça erguida e confiança.
5) Você pode – e deve – questionar e se posicionar
Questionar as ideias, iniciativas ou objetivos das pessoas em níveis mais altos de poder e autoridade pode ser difícil para qualquer um, mas, em particular para nós, mulheres.
Diferentemente dos homens, as mulheres tendem a reagir com mais emoção à dinâmica do relacionamento. Expostas as situações que demandam um posicionamento seguro, convicto e forte, acabam se intimidando e amenizando declarações que possam ser interpretadas como egoístas, por exemplo. Esses padrões linguísticos são marcantes e recorrentes. Podemos observa-los em centenas de relacionamentos no local de trabalho, todos os dias. Os desafios de comunicação da mulher profissional
Eu acredito que esse fenômeno se deve a vários fatores. Em parte, à forma como mulheres e homens foram treinados culturalmente e sua neurobiologia. Outro ponto está no desconforto que muitas mulheres sentem no local de trabalho quando se posicionam e defendem suas ideias com força e altivez, indo contra aqueles que se colocam como a maioria. Trabalhar esse desconforto é desafiador.
Mas o fato é que as mulheres não podem ascender à liderança se não questionarem os outros e ao status quo. Porém, a questão não é “devem questionar”, mas “qual a melhor postura para questionar a autoridade e ser ouvida, compreendida e valorizada pela sua contribuição?” Não há atalhos! A resposta correta a essa pergunta está disponível somente depois que você examinar minuciosamente a cultura da empresa e/ou mercado no qual esteja inserida, se autoconhecer, compreendendo o que efetivamente deseja e como alcança-lo e prosperar.
Qual desses desafios de comunicação mais te afetam? Que passo você pode dar hoje, agora, para minimizar suas fragilidades?
No final, nós, mulheres, não podemos fingir ser capazes. Ou nos sentimos confiantes, corajosas e capazes, ou não. O caminho mais rápido para o sucesso é compreender o motivo da nossa fragilidade. A partir daí se esforçar para melhorar, indo em busca de medidas proativas para obter confiança e legitimamente reforçar sua autoestima.
Grande abraço
Rosana Zan – Instituto Comunica
Mentoria em Comunicação e Carreira